Bem vindo ao meu mundo de idéias!

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terça-feira, 27 de março de 2012

Coberta pelas folhas...


Estava um dia nublado, destes que você reluta em sair de casa. Na cabana apenas eu, a fumaça que saia da chaminé e a lareira que aquecia meus pés e deixava o chá quente por mais tempo. Olhei pra fora e fiquei ali sentada na cadeira de balanço vendo as folhas se desprendendo dos galhos das árvores. Elas naquele momento simbolizavam meu coração, a dor de deixar ir, que dor mais intensa este tal de desapego. Meu coração estava em brasas aparentemente apagadas, mas uma breve brisa entrou pela fresta da janela e soprou meu coração e com o sopro vieram as lembranças... Quantas lembranças. Com um gesto instintivo abracei a morte dos momentos que não fui capaz de guardar, imagens da minha infância, carinhos dos meus avós, risadas inocentes em meio a tantas brincadeiras. Agora estava só, um amargo fel me veio à boca. Quanta inocência a minha, achei que as pessoas que me amavam tanto jamais me abandonariam, egoísmo de criança? Não sei se este sentimento já deixou de existir no meu pequeno e frágil coração. Aquela pequena cabana talvez resumisse minha “pequenitude” no mundo, estava tão reduzida em minhas amarguras existenciais que resolvi me arriscar no frio da floresta já ao entardecer. Imprudente? Talvez! Mas humanamente compreensível afinal o que na vida da gente não é risco? Nascemos, esperneamos, choramos, engatinhamos, caímos inúmeras vezes, até que aprendermos a ficar em pé e quando achamos ter aprendido a ter equilíbrio na vida somos lançados novamente ao chão inúmeras vezes, porém não há mais pais ou avós para nos levantarmos todas as vezes, a isso damos o nome de maturidade.
Aventuro-me pela vegetação, enleada em um casaco macio, um cachecol e botas quentinhas, no meu inconsciente ouço a voz da minha vó paterna me dizendo pra levar um gorro pra não ter dor de ouvido, volto então até entrada da cabana e pego um gorro pendurado no prego atrás da porta. Lanço-me na perplexidade de um mundo diferente do meu cotidiano, assim como me fiz esposa, mãe, e tantos outros papéis que assumi na vida sem saber ao certo como seria o decorrer da história. A verdade é que nada na vida vem com manual de instruções, nem mesmo os filhos, cada um possui um temperamento diferente do outro e ai haja jogo de cintura e paciência. Mas fui desta forma também, quando mais nova e ainda hoje me faço camaleoa adaptando-me as intempéries, só que hoje a vida me tornou mais cautelosa e menos impulsiva. Voltando a minha caminhada vejo uma quantidade de folhas de várias cores em baixo dos meus pés por toda trilha, vou seguindo e seguindo até me sentir exausta com os meus pensamentos. Cansada deixo a chave da cabana cair em meio a um punhado de folhas secas e úmidas pela garoa fininha que começa a cair, sento-me em baixo de uma árvore frondosa e percebo que nela há um côncavo naturalmente talhado em sua raiz. Ajeito-me e por um instante aquele fica sendo meu lugar seguro... O frio parece aumentar com o passar das horas e a garoa teima em permanecer caindo, estou encolhida, quase parecendo uma “trouxinha” de gente. A queda brusca da temperatura me faz me encolher ainda mais, adormeço sem perceber e quando acordo estou com um senhor franzino e simpático ao meu lado me oferecendo abrigo. “Venha menina, tenho um lugar seguro pra você se aquecer até o tempo melhorar”.
Ressabiada apenas peço que ele me leve até minha cabana há alguns quilômetros dali. Ele aceita de prontidão e logo estamos conversando mais descontraidamente sobre a chegada daquela estação que representa a renovação. Conversamos muito de sentimentos e aflições, parece que consegui desabafar e me livrar um pouco da angústia que me levara àquele lugar isolado do mundo. Ao longo da conversa perguntei o nome dele e me apresentei logo em seguida. Ele me disse. “Doce menina, não precisamos saber nomes, estes são apenas títulos “tolos” por aqui, o que vale mesmo é conhecer os corações”. Naquele momento quase perdi a percepção do meu mundo tamanho impacto que aquelas palavras promoveram no meu coração, andando pela trilha ele me falou de coisas que eu nunca tivera tempo pra ouvir, ou melhor, nunca tinha dado o devido valor àquelas sábias palavras. Quando avistei a cabana ao longe fiquei feliz e ao mesmo tempo triste, afinal a conversa estava muito reconfortante. Convidei-o para entrar na naquela pequena cabana para que eu pudesse lhe retribuir a companhia com uma xícara de chá quente. Ele me fitou com os olhos do meu pai que há muito anos não via, abracei-o sem pensar duas vezes e entendi naquele momento que nada na vida é por um acaso. Que nem uma folha cai de uma árvore sem que ELE permita... Ajudei-o a tirar o casaco úmido e pendurei perto da lareira para secar, esquentei uma sopa e dividimos um pedaço de pão que restara do dia anterior. Compartilhamos momentos inesquecíveis de lembranças e fraternidade. Improvisei uma cama pra ele perto da lareira e me ajeitei no sofá, acabamos por adormecer já tarde da noite até que as velas se apagassem por inteiro. Na manhã seguinte acordei com um pulo, parecendo criança em dia de aniversário, mas para minha surpresa apenas avistei um bilhete em cima da mesa perto da chaleira cheia de café fumegante. No bilhete estava escrito estas palavras. “Querida filha, obrigado por ter me aceito na sua casa e no seu coração! Poucos me reconhecem como PAI, e você me fez acreditar mais uma vez que vale a pena acreditar nos meus filhos na Terra. Obrigado pelo acolhimento, pelo calor e pela confiança. Continue sendo especial e de coração puro. Suas lutas? Descansa, elas serão minhas daqui em diante”.
“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”. Provérbios 3:5-6

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