Quando a
chuva molhou meu rosto...
Aquele dia
não seria um dia qualquer. Logo de manhã levantei atrasada, pés descalços e o
corpo todo dolorido da noite mal dormida. Olhei pra fora da janela e notei o
tempo nublado. Procurei meus chinelos e fui colocando-os enquanto andava meio
que cambaleando até o banheiro. No espelho me vi sem me olhar direito, passei
as mãos pelos meus cabelos e os prendi no alto da cabeça num coque feito de
forma displicente. Olhei novamente pro espelho, abri a torneira e deixei a água
gelada resfriar a face. Fragmentos de pensamentos me deixavam meio inquieta, na
verdade o que me deixava agitada era minha vida, nem tão curta, nem tão longa,
mas certamente daria um livro daqueles que viram best-sellers nas grandes redes
de livrarias. Um pouco de dor, de desilusão e amor, muito amor. Espreguicei
demoradamente e terminei minha higiene matinal, já pensando na roupa que
deveria colocar pra ir trabalhar. No desjejum um copo de suco de clorofila,
maça e cenoura, tudo isso pra dar um tom de vida a vida! Ainda envolta em meu
roupão felpudo caminho até a sala e observo os primeiros pingos de chuva no
vidro embaçado, com o copo de suco na mão esquerda, passo a outra mão no vidro
gelado na esperança de ver com maior nitidez os relâmpagos que ensaiam abrir
clarões no céu nublado. Momento bom pra
parar a vida! Pra repensar gestos e analisar palavras não ditas... No silêncio
do meu silêncio a inquietude me incomoda e me dirijo até a estante pra ver o
que acho de bom, um cd da Ana Carolina me pareceu melancólico talvez, opto
então por Maria Gadú cantando com Ana Carolina... ai sim, fechou. A chuva vira
poema, sinto meu coração bater mais forte, a música me dá vontade de tomar algo
mais quente, um café certamente seria mais apropriado. A alça da minha camisola
desliza no meu ombro e lembro-me da minha pele arrepiando por um sentimento
guardado a sete chaves. Que segredo é este que guardo de mim mesma? Outra
música começa a tocar e agora tomada por um sopro de liberdade resolvo abrir a
janela, a chuva já cadenciada molha minhas mãos e respinga meu cabelo preso. Fecho
meu roupão com as mãos, mas deixo que a chuva continue respingando no meu rosto,
calor...frio...calafrios... fico parada por alguns minutos e experimento a vida
em toda sua intensidade, estranho, as vezes um instante é capaz de nos dar a
visão do todo... O vento impiedoso faz minha pele toda ficar gélida, outra
música toca... É isso ai... com Seu
Jorge, fecho os olhos e suspiro sentindo emoções ainda mais fortes. Curto a
música e deixo a meus sentimentos me embalarem e riu à toa, a música termina e
fecho lentamente a janela como se a pressa fosse interromper minhas lembranças
inquietantes. Corro até meu quarto e pego uma toalha seca, me desfaço da roupa
molhada e entro em baixo da ducha quente. A água quente dá um contraste agradável
e acolhedor à pele, renovada e me sentindo leve deixo o Box enrolando-me na
toalha novamente, paro em frente ao espelho e desta vez me vejo inteira no
espelho, de corpo e alma presentes.
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