Pele nua...
Esperando
teu navio chegar, me encontro no vazio dos meus pensamentos. Prometi aguardar o
teu retorno e incansavelmente assim vou ficar. Mesmo vestindo um vestido feito
de trama em veludo verde, o gelo do vento congela meus ossos. Fico a fitar o
horizonte aguardando seu regresso, as embarcações, vem e vão, e por vez
debruço-me no cais desoladamente na esperança que por um segundo possas vir de
madrugada me despertar. Meus cabelos longos avermelhados flamejam com o vento,
embaraçando-se com a umidade da maresia. Úmidos também ainda estão meus lábios,
minha delicada pele e minhas mãos. Quem irá aquecê-los se não você amado meu,
lembrança minha. Muitos por vezes me chamam de louca, outros invejam o motivo
de ainda me encontrarem aqui, parada, esperando por tua chegada. – Que amor
seria este? Interrogam-se os ignorantes na arte do amar. Eu sei que amor é este
de que eles tanto duvidam, é amor de outras vidas, é a eternização de duas
almas queridas que jamais iram se separar. Beije-me apenas uma vez mais,
aqueça-me em teus braços e enlaça-te nos longos cachos dos meus cabelos que
teimam em nunca desistirem de te reencontrar no suor dos nossos corpos a se
amarem. Em outras vidas o simples tom
dos meus cabelos me levaria a queimar lentamente em uma fogueira por me acharem
ser uma bruxa enlouquecida, hoje posso permanecer aqui com minha dor, dor da
espera, dor da lembrança que o mar levou com as ondas, dor de ter perdido tudo
o que um dia eu tivera. Oh mar ingrato, porque de tão bravio levaste meu amado,
porque não me leva contigo se é que é do seu agrado, a dor insuportável me leva
a delírios igual ópio na vida dos desgraçados. Quero de volta o que me foi
tirado, quero sonhar e sonhando me sentir acordada, ao seu lado, sentindo seu
calor, seus lábios e seu halito de amor embriagado. Volta pra mim enquanto a
lua se fizer enlouquecida, volta pra mim e diga que ainda podes ser meu.
Enquanto meu delírio me devora viva, fico aqui, sei que se não nesta vida, em
outra reencontrarei você meu anjo amado, que tão repentinamente de mim foi tirado, por vezes penso que por capricho dos
mares ou quem sabe pela inveja de uma
sereia solitária tudo tenha sido consumado. Fecho os olhos e sinto sua mão
percorrendo todo meu corpo, é neste momento que ainda encontro certo conforto,
até quando este inferno perdurará em minha mente insana? Não sou dona mais da
minha realidade, vivo vagando como se vivesse em um navio fantasma, sem cor,
sem vida, onde fantasmas me iludem dizendo que te viram no fundo do mar nos
braços de uma linda criatura em forma feminina. Das lágrimas volto ao riso como
se estivesse em uma montanha russa, assim passam-se os dias, assim encerram-se
minhas noites, continuo aqui, de frente a este imenso mar de amor a te
esperar...
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