Este tema fervilha em minha mente após vivenciar o
dia do feriado, 7 de setembro. Estava me convalescendo ainda de uma cirurgia há
poucos dias, quando pela manhã ouvi do alto do meu apartamento o som da
fanfarra que tocava ao longe.
Confesso que
na hora fui tomada de curiosidade e logo me dirigi à janela do apartamento onde
avistei os integrantes do tiro de guerra passando debaixo da minha sacada, logo
após terem desfilado na avenida.
Lindo de ver... Jovens patriotas,
enfileirados, bravamente entoando gritos de ordem sincronizados. Cena esta que
me fez lembrar a minha infância ao som do desfile da minha cidade, onde a ordem era “ORDEM”. Nós crianças de 7 e 8
anos marchávamos tendo em mente a prática do civismo, da organização e
principalmente do respeito, matéria do
ensino fundamental, educação moral e cívica a nossa conhecida EMC.
Todos nós
sabíamos os hinos, desde a letra até o significado de cada frase e refrão.
Tínhamos um contato direto com os símbolos que representavam a nossa pátria. Eu
era estudante de escola pública e na época cantávamos semanalmente os hinos e
assistíamos o hasteamento das bandeiras, nacional, estadual e municipal sempre
que a solenidade fosse solicitada.
O nome do meu colégio era Marechal Cândido
Rondon, ao cantarmos o hino da pátria experimentávamos algo mágico, uma mistura
de orgulho e sentimento de segurança e poder. Penso que este sentimento era
fruto do rigor na educação que tínhamos do significado da palavra “respeito”
que nos era ensinado pelos nossos pais e professores.
Sou da época
que professor era palavra de ordem dentro
e fora da sala de aula, onde os pais apoiavam a hierarquia dentro do ensino
oferecido nas escolas. Nunca se ouvia falar em desrespeito aos professores,
algazarra, violência ou mortes no ambiente estudantil e isso nos dava segurança.
Nunca a
violência nas escolas foi tema de chamada de telejornal. Sabe por quê? Porque
tínhamos parâmetros que nos norteavam, leis e normas que eram ensinados e
seguidos por todos e acredite, sinto saudades!
Hoje se fala
muito em direitos; na minha infância, primeiro aprendíamos os nossos deveres,
depois nossos direitos, e a matemática era simples, primeiro você conquista, ganha,
depois usa seus créditos, tendo assim o direito de opinar, reclamar, solicitar,
mas tudo dentro de uma “ordem”.
Observo
nossas crianças e jovens reivindicando muitas vezes algo que nem sabem ao certo
o que estão querendo e com isso perdem a força de seus propósitos. Apesar das
famosas “redes sociais” estarem em alta, nunca se viu tanta exclusão social,
divergências de opiniões, violência e insegurança que geram desacatos às
autoridades, desde os pais, se estendendo as escolas e quem é que segura esta
nova geração? Onde estão os deveres? O respeito? No que estão alicerçados
nossos direitos e deveres?
Estamos aprisionados
nas armadilhas da tecnologia, da chamada globalização e do encurtamento de
distâncias, todas estas são beneficiárias, todos concordamos, mas com estes
ganhos futurísticos veio junto à comodidade dos pais e o distanciamento dos
filhos.
Sim, fazemos
parte desta “causa e efeito”, e pior ainda é vivemos dias onde apenas
“direitos” prevalecem e “deveres” são tratados como peças velhas de um museu
abandonado.
Somos
prisioneiros em nossas próprias casas, a violência desenfreada decorrente das
drogas e da violência perambula nossas ruas, escolas, clubes e estádios de
futebol e hoje nos damos conta que todos estes lugares fazem parte do dia a dia
dos nossos filhos que estão expostos a toda essa desordem social.
Muitos de nós pensamos, onde foi que eu
errei? A resposta é que todos nós erramos! O sistema de conduzir a educação
familiar está errado, gritamos por anos querendo liberdade e direitos de expressão,
afirmávamos nos sentir presos, tolhidos em nossos direitos e agora brigamos por
quê? Almejamos o quê?
Nos dias
atuais ironicamente assistimos o evoluir de uma nova geração que não quer
compromissos, muito menos assumir responsabilidades. Eles querem o último
lançamento do celular de marca famosa, a roupa que está nas prateleiras dos
grandes shoppings, o notebook de tecnologia de ponta que daqui uns dias
certamente será considerado um equipamento defasado.
Nessa nova
geração não é aceitável ter decepções, ser contrariado, prioriza-se a
realização individual, defende-se a felicidade individual a qualquer custo,
mesmo sem saber o que venha a ser a verdadeira felicidade. Nunca se vendeu
tantos livros que prometem ensinar como encontrá-la e vivê-la intensamente!
Vivenciamos
todos os dias um mundo repleto de pessoas infelizes, depressivas, deprimidas e
angustiadas. A bússola do tempo parece ter enlouquecido. Muitas vezes nos sentimos sozinhos em meio a
um mar de gente, inseguros com o correr do tempo e tendo que nos mostrar cada
dia melhor e melhor para o mundo que nos cerca.
Parece que
foi ontem que nosso dia-a-dia se resumia em
nossos vizinhos e amigos, hoje em
dia quando dizemos que nos sentimos pressionados como se o mundo estivesse em nossos ombros, podemos senti-lo literalmente,
pois vivenciamos todos os dias por meio de notícias a realidade de todo o
planeta.
Exercitamos
diariamente uma excitação que gera muitas vezes medo e insegurança sobre o
amanhã que nos aguarda.
São terremotos,
tsunamis, placas tectônicas, terrorismo, pessoas loucas que adentram escolas e
fuzilam nossos jovens e crianças. Pais que matam filhos e filhos que matam
pais.
Ao ver as
notícias na internet e na televisão temos a impressão de estarmos vivenciando
um parágrafo apocalíptico. Como reverter esta situação? Quem sabe retomarmos
alguns valores não tão antigos!? E por onde começar? Deixo aqui um pensamento
para que possamos refletir.
“Em
se tratando de cidadania e sociedade, enquanto o civil for mais importante que
o social, ou enquanto o indivíduo for mais importante que o coletivo, estaremos
eternamente fadados à exploração do homem pelo homem, à inferioridade e à
decadência intelectual e material – o que pode nos debilitar ciclicamente e nos
tornar adeptos da indiferença ou da crença em dias melhores post mortem.”